Eis que a safra de filmes válidos retoma espaço no mercado dos DVD’s para entretenimento pessoal. Desse modo eu posso – com gosto – comentar algumas das melhores películas feitas atualmente. Minha seleção semanal da vez abarca, contudo, dois filmes tipicamente ‘blockbusters’, mas que, eu tentarei – com efeito, ou não - explicar a importância de ambos.
Pretendo elencar os filmes da maneira como eu já venho realizando: começando pelo menos exitoso até a minha preferência particular. Antes que me condenem, o menos exitoso não possui seu grau de mérito vinculado as minhas preferências. Contudo a minha preferência está diretamente ligada ao fato dele possuir méritos ou não – é óbvio, certo?
Mais conhecido como um dos grandes fracassos de 2007 chega ao home vídeo
A Bússola de Ouro (2007).
Dirigido pelo semi desconhecido Chris Weitz que havia feito antes algumas comédias bem presas ao gênero como
Um Grande Garoto (2002), estrelada por Hugh Grant (deu pra captar o nível, não?) o filme tinha por missão ser a nova mina de dinheiro e público da produtora New Line, genitora da maior trilogia da história do cinema
O Senhor dos Anéis. Contudo sua proximidade com a trilogia de sucesso cerrou-se em ser apenas advinda do mesmo lar. Adaptada também do primeiro livro de uma trilogia escrita por Phillip Pullman,
A Bússola de Ouro apostou num elenco estelar, mas errou feio em recriar as questões elucidadas pelo autor. Nicole Kidman, Daniel Craig (atualmente conhecido como James Bond), Eva Green (conhecida também pela proximidade com James Bond – foi a última Bond Girl) não conseguiram ganhar o público que não comprou as idéias propostas.
A trilogia conhecida como
Fronteiras do Universo, ficou famosa, pois o autor soube mesclar um universo fantástico e paralelo com questões fundamentais a modernidade, tal e qual, o questionamento da Igreja Católica, a manipulação do povo pelo governo e até, indiretamente, as questões das diversas realidades propostas pela Física Quântica. Tudo isso acompanhando a história de Lyra Belacqua, uma espécie de escolhida, que é a única que entende a engenhoca de ouro que prevê o futuro. Entretanto o roteiro do filme optou por amenizar as questões profundas, retirando inclusive os aspectos pessimistas da obra de Pullman, transformando o filme em “ninguém segura essa criança” com cenários e paisagens gigantescos e belíssimos. Aliado a tecnologia de ponta, o filme arrebatou de surpresa o Oscar de efeitos visuais, deixando pra trás os favoritos
Piratas do Caribe. Vale se você quer comprovar a tese de que Nicole Kidman tem pouca paciência pra crianças e animais, já que, em vários filmes ela mete um safanão em um deles (vide
Os Invasores [2007]).
Com a criatividade igualmente limitada como a do primeiro filme, aparece também disponível
Eu Sou A Lenda (2007), encabeçado pelo fenômeno de público Will Smith. O fil
me é pouco criativo, pois trata de uma epidemia que assolou o mundo deixando, principalmente, ‘New York’ abandonada e destruída. Você já viu isso antes (várias vezes), correto? Pois é. O filme inclusive foi adiado 5 anos, pois quando foi concebido surgiu nos cinemas o sucesso indie
Extermínio (2002), dirigido com brilhantismo por Danny Boyle de
Trainspotting (1996), o qual contava, por sua vez, a história de uma epidemia que se espalhou rápido pela Inglaterra, transformando todos em zumbis. Sem espaço então, para competir com a mesma idéia,
Eu Sou A Lenda pode ressurgir nos dias atuais aliando-se a ótimos efeitos especiais. O diretor Francis Lawrence (que fez
Constantine [2005]) soube construir uma história, que por mais avessa a realidade, parecesse plausível e sensata. O tom de desespero e solidão que imperam no filme traz uma carga de verossimilhança extremamente saudável pra história. O filme peca no visual dos “vampiros” criados pela epidemia – surgida a partir de uma mutação genética que visava a cura do câncer – pois eles não combinam nada com a realidade. Contudo acerta bonito na escolha da ótima atriz brasileira Alice Braga, que surge no final do filme para adicionar uma esperança a mais a história fatalista da película.
Por fim temos o espetáculo visual e sonoro
Across The Universe (2007) concebido pela diretora Julie Taymor, que tinha dirigido anteriormente
Frida (2002), mas que possui uma ótima experiência teatral, pois foi diretora do espetáculo
O Rei Leão na Broadway. O filme fez o que há tempos muitos haviam pensado, mas ninguém tinha feito: um musical embalado com músicas dos Bea
tles. As músicas da banda histórica servem para embalar o romance de Jude e Lucy, ele escocês que vem aos E.U.A em busca de seu pai e ela típica filha de classe média norte-americana que tem o primeiro namoradinho morto na, então, em ebulição, Guerra do Vietnã. Aliados ao irmão da garota, eles se mudam para uma Nova Iorque fervendo artisticamente, com o início de movimentos contra guerra e conflitos, entre eles, o forte e bonito movimento Hippie. Na Big Apple eles cruzam os caminhos com dois músicos que homenageiam simbolicamente artistas que influenciaram toda a geração nascente – assim como os Beatles – Jimmi Hendrix e Janis Joplin. Com participações especiais memoráveis de Bono Vox, Joe Cocker e Eddie Izzard o filme monta uma esfera onírica em contraponto a dura realidade da juventude do período, desfilando belas releituras das canções já bem conhecidas com um visual afiado e cativante. Um trunfo muito bem vindo de uma safra fílmica que tem se tornado cada vez mais morna e padronizada. No elenco estão a bela Evan Rachel Wood (indicada ao Globo de Ouro por seu papel no controverso em
Aos Treze [2003]), e os promissores Jim Sturgess, em exibição encabeçando o elenco de
Quebrando a Banca (2007) e Joe Anderson, que interpretou recentemente o sobrinho mimado de Beethoven em
O Segredo de Beethoven (2006).
Espero que entre, tantas e distintas opções, as pessoas possam se sentir um pouco mais satisfeitas dentre a mediocridade de certas preferências cinematográficas. E tenho dito!